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#niverpegada – FadaRobocopTubarão

Por Dinamite

Perder a virgindade, vandalizar gratuitamente sua cidade e começar a ouvir o rock que seus pais: essas são três coisas que podem parecer completamente diferentes… mas na verdade são bem parecidas. Por mais que o pessoal da igreja (qualquer uma) condene, essas são coisas que, com uma certa idade, a molecada sente que tem que fazer. São coisas típicas da juventude e costumam vir com aquele gostinho bem bolado de subversão. Acima de tudo, coisas assim são divertidas.
Esta é uma resenha do disco Força Dobermman, com o qual o parágrafo acima não tem nenhuma relação direta. Na verdade, escrevi essas primeiras linhas por dois motivos: o primeiro é para que sirvam de aviso. Este texto reflete uma visão muito pessoal e descompromissada. Embora ele possa ser lido tranquilamente por alguém que ainda não tenha perdido a virgindade, nunca tenha cometido um ato de vandalismo e ainda escute apenas os mesmos discos que seus pais, é provável que não seja bem compreendido por alguém que se encaixe nessas três categorias. O segundo motivo é para tentar, de alguma maneira, mostrar o tipo de sensação causada pela banda FadaRobocopTubarão, seja nesse disco recém-lançado ou em suas apresentações ao vivo.

O FadaRobocopTubarão é um trio de rock instrumental de Belo Horizonte; uma banda direta e bruta com músicas raivosas tocadas sem muita frescura. Na verdade, sem nenhuma. O trio é integrado por Porco (do Grupo Porco de Grindcore Interpretativo, ex-integrante do U.D.R) na guitarra, Batista (também do Grupo Porco de Grindcore Interpretativo) no baixo e Chico (ex-Esquadrão Relâmpago Monster Surf) na bateria. Esses jovens são parte do Azucrina!, um coletivo de artistas, designers, músicos e todo tipo de pessoa que compartilha uma atitude “Faça Você Mesmo”.

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Lançado pelo selo do coletivo, o Azucrina Records, no primeiro dia de setembro de 2009, Força Dobermman (escrito assim mesmo, com dois emes) é o disco demo dessa rapazeada incorreta. E nesses tempos em que qualquer banda principiante consegue fazer (normalmente gastando um dinheirinho) gravações com qualidade técnica aceitável para rádios FM, o disco do FadaRobocopTubarão pode acabar assustando aqueles de ouvido mais refinado ou fresco. O disco é decidida e profundamente lo-fi (de baixa fidelidade). Na verdade, soa mais como um bootleg, mal gravado e mal mixado.

O FRT é uma das minhas bandas preferidas em Belo Horizonte. O trio tem uma pegada forte e rápida, quase primitiva, mas sua música é essencialmente simples. Uma grande curtição mesmo, que não tenta alienar o público. Por exemplo, a música Viradinha (terceira música do disco), é um rock nervoso com uma das frases musicais mais grudentas que ouvi nos últimos tempos. Na verdade, tendo visto um show da banda debaixo do viaduto Santa Tereza no começo do ano, fiquei meses com o trecho final de Viradinha na cabeça.

As seis músicas do disco chegam barulhentas e cheias de sujeira, mas também afiadas e empolgantes. É engraçado que (má) qualidade da gravação contribui de alguma forma para a impressão causada pelas músicas. É como se o FadaRobocopTubarão olhasse para a infinidade de cuidados que bandas grandes e pequenas têm ao gravar seus discos e propositalmente ignorasse todos eles. Eu não ficaria nem um pouco surpreso se descobrisse que foi tudo feito em casa mesmo. Força Dobermman é um disco no espírito “Faça Você Mesmo”, com vitalidade e conteúdo feroz, mas a qualidade técnica de algo feito ’na raça’. É um disco punk, se você entende o punk mais como um jeito de fazer música que como um estilo musical. E é sem dúvida um disco de rock. Rock nervosão, sem masturbação e sem enfeites, da primeira à última faixa. Ah, e pode ser baixado gratuitamente aqui.

Conheço muita gente que diria que não é assim que se deve fazer um disco… que se for pra fazer algo tosco, é melhor não fazer. Essas pessoas estão enganadas. Não dá para pressupor que má qualidade técnica signifique má qualidade artística. Muitas vezes sim, mas não sempre. Talvez seja por causa da crise econômica mundial, ou talvez esse seja um dos sinais do fim do mundo; o fato é que atualmente a estética do “Faça Você Mesmo” (e do jeito que der pra fazer) está na mesma que a Tati Qubra-Barraco: ela é feia, mas tá na moda. Eu mesmo gosto de ambos.

Enfim, ouvir Força Dobermman é algo como ver um boxeador chutando com força e sem aviso o saco do boxeador adversário: você sabe que é sujo e que não é exatamente como as coisas deveriam ser feitas, mas não importa: é divertido. Esse tipo de coisa é exatamente o que faz um fã de rock (ou de boxe) mais careta torcer o nariz. Mas, para qualquer um que não ligue para os pressupostos e que queira se divertir nervosamente, a banda FadaRobocopTubarão é realmente foda. E eu digo foda no bom sentido!

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